Apesar da natureza extrema e aparentemente uniforme, o metal como gênero contém uma grande variedade de sons. Além da sua longa lista de subgêneros, o metal funciona muito bem de forma híbrida, com outros gêneros muito diferentes — como folk, jazz, rock clássico e alternativo, só para citar alguns. As bandas de metal híbrido muitas vezes adotam alguns aspectos típicos do metal, mas omitem outros — por exemplo, você pode ouvir guitarras afinadas tons abaixo e com distorções sujas combinadas a vocais a toda potência, mas sem solos de guitarra nem baterias rápidas. Um exemplo é a banda francesa de metal alternativo AqME, que lançou seu álbum de estreia, Sombres Effort, em 2002. Sua fusão de rock alternativo com nu metal lembra mais o som de bandas como Nirvana e Soundgarden — duas das quais o quarteto parisiense considera suas principais influências — do que ícones do metal como Iron Maiden e Metallica.
A baixista do AqME Charlotte Poiget tocava um baixo de cinco cordas típico do nu metal, o Gibson Thunderbird, e o guitarrista original, Benjamin Rubin, tocava uma Gibson Flying V ou Les Paul de seis cordas, entre outras guitarras. A quinta corda de um baixo de cinco cordas na afinação-padrão é um Si grave, com o resto das cordas seguindo a afinação-padrão de um baixo de quatro cordas (E, A, D, G — da última para a primeira). Baixos de cinco cordas são ideais para bandas com guitarras de sete cordas ou guitarras de seis cordas abaixo da afinação-padrão; guitarras de sete cordas também têm a última corda afinada em Si, com o resto das cordas seguindo a afinação-padrão de uma guitarra de seis cordas (E, A, D, G, B, E — da última para a primeira). No caso do AqME, Benjamin afinava sua guitarra de seis cordas em Si (B, E, A, D, F#, B), o que combinava com o Thunderbird de cinco cordas na afinação-padrão de Charlotte. No início da carreira da banda, Charlotte não usava palheta, nem quando acionava um pedal de distorção durante as partes mais potentes da música. Posteriormente, ela adotou a palheta e um estilo mais agressivo e percussivo. Muitas músicas do AqME, como "'Si' N'existe Pas", do primeiro álbum, seguem uma dinâmica suave-pesada-suave-pesada, com o som limpo com efeito de chorus de Benjamin subitamente passando para power chords distorcidos em Si grave.
Descartando completamente os solos de guitarra, o AqME recorre aos riffs marcantes de Benjamin, pontuados pelo baixo de Charlotte e acompanhados pelas melodias do vocalista principal Thomas "Koma" Thirrion (substituído por Vincent "Vinc" Peignart-Mancini em 2012). A balada "Tout à un Detail Près" apresenta o lado mais suave da banda, lembrando "Heart Shaped Box", do Nirvana. O canto melancólico marcado pela respiração de Koma transmite o peso emocional da música, com vocais de apoio discretos, cortesia de Charlotte, na segunda metade da música. A bateria do único membro original da banda, Etienne Sarthou, se limita a uma levada minimalista até a marca dos 2:15, quando ele intensifica a energia com uma levada tribal mais pesada, acompanhada pelo baixo distorcido de Charlotte.
Fiéis ao nome (inspirado por "akmê", que em grego antigo significa "clímax", ou ponto de virada), o AqME adotou um impressionante nível de intensidade e dinâmica com sua abordagem simples, sem muitas firulas. Às vezes, você só precisa de um ou dois riffs de bater cabeça que sejam interessantes para causar impacto, e o AqME soube oferecer exatamente isso.
Leila Abdul-Rauf é uma multi-instrumentista e compositora de Oakland, CA. Leila é guitarrista e vocalista das bandas de metal Vastum, Hammers of Misfortune e da banda de post-punk etéreo Terebellum. Ela também compõe e produz música ambiente autoral, com o trio eletrônico Ionophore e o duo de synth-folk Fyrhtu. Já fez turnês internacionais e atua como professora particular de guitarra e canto nas horas vagas.
AqME 2014, de M.Ezan - www.aqme.com, está licenciada sob CC BY-SA 4.0.
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